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Tácito de Oliveira MourA

Em nome do “Pai” 

 

Por João Duarte

onta-se nos dedos de uma só mão os dentes restantes de Tácito de Oliveira Moura, 59. Há oito anos ele tem por endereço oficial a Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. A fala é um tanto quanto atropelada, por pouco incompreensível. No entanto, dentre as coisas que nos conta, algumas são repetidas tantas vezes que não há como esquecê-las: ele fala de liberdade e de respeito.

 

Liberdade porque Tácito está em situação de rua por escolha. Não que tenha acordado um belo dia e dito para o espelho que se mudaria para a Praça, mas porque se sentia sufocado em casa, com problemas familiares e sem poder receber visitas. Tácito é nada mais que um passarinho que montou seu ninho às margens do Cine São Luiz e do antigo Hotel Excelsior, ícones alencarinos.

 

Respeito porque responde por um apelido, criado pelos outros habitantes da “Mãe Ferreira” a fim de mostrarem o amor locado naquela relação. Se chama mesmo “Pai”, sendo impossível perguntar quem ali conhece Seu Tácito. E é assim que é chamado pelos filhos nascidos de seu segundo casamento - o com a Praça, quando esses precisam de comida, de remédio ou de… cachaça.

 

“Pai” é o líder, é quem dita a harmonia. É também padrinho, reconhecendo cada casal que se forma na Praça, doce lar; anfitrião, conversando com quem chega e precisa permanecer por lá; terapeuta, quando, sentado no colchão não-mais-branco, ouve as lamúrias dos filhos mesmo sem conselhos plausíveis. “Pai” dá a mão a quem quer que seja. Acolhe quem vem, quem passa, quem sai.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Pai” pede moedas de vez em quando. Não mendiga, mas diz que quando recebe uma moeda, a transforma em outras dez. São vinte minutos da “Mãe Ferreira” à casa onde construiu e morou com os filhos, localizada no Montese. Não quer voltar, sua casa agora oferece banco às visitas. Tem por sonho “botar todo mundo num mesmo abrigo”, como quem só quer mesmo catucar com a grande família.

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Não quer voltar, sua casa agora oferece banco às visitas.
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Veste - sempre - apenas uma bermuda, denunciando o calor da tarde na Praça. Conta ser um policial aposentado do Comando Tático Motorizado da Polícia Militar do Ceará (Cotam). Os relatos apontam entre 4 e 5 mil reais de benefício. O registro de ex PMs, por outro lado, nunca viu seu nome. Talvez porque não tenha sido catalogado como Tácito, mas sim como Pai. Talvez porque tenha mentido para nós. Quem se importa? O abraço suado de Pai vale mais.

C

*Fonte: Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra)

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