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AMORA*

A esposa traída

Por Wanderson Trindade

 

 

h! Eu conheço ele aí, sim!”, avisa para um rapaz, desconfiado com a minha presença. Aproxima-se com um belo sorriso no rosto. Nos cumprimentamos com um aperto de mão e um forte e caloroso abraço. “Ele sempre tá por aqui, fazendo um trabalho da escola, né? Tudo bem meu, filho?”, só risos.

 

Esta é Amora, ou Amor, que me recebeu de braços abertos para contar um pouco da suas histórias, aflições e sonhos. Amora é um nome fictício para nossa personagem, mas não é um nome aleatório. Ele foi escolhido por conta de seu radical: Amor. A falta de amor, na verdade, foi o que lhe tirou de casa. E o amor por um momento de fuga lhe jogou no crack. Porém, o amor pela beleza foi o que lhe fez vencer o vício. Já a necessidade de preservar sua identidade é o que me motivou a escolher Amor, como a melhor definição para essa história.

 

Amora, ou Amor, tem 45 anos. Há 15, descobriu que seu marido, com quem tem três filhos, lhe traiu e daí em diante sua vida nunca mais foi a mesma. Após a traição, ela saiu de casa, em Fortaleza, e partiu para Campinas, em São Paulo. Deixou para trás duas filhas gêmeas de dois anos e um filho, de oito. Perambulando pelas ruas da cidade paulista encontrou no crack uma fuga passageira de sua dura e difícil realidade. Para manter o vício ela fez de tudo, chegando a prostituir-se e a cometer assaltos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Presa por um ano, devido a um roubo mal sucedido, e pesando apenas 23 quilos, Amora, com seu 1,4 metro de altura, resolveu, por conta própria e sem ajuda de clínicas, parar com o uso da droga. Sua tarefa foi muito difícil, mas o desprazer de se ver irreconhecível no espelho falou mais alto. Voltando para Fortaleza em 2014, veio direto para as calçadas da Praça do Ferreira. Ela reencontrou seu filho mais velho, que hoje está casado e com família bem estruturada. Não revela se encontrou as gêmeas, porém diz que sempre quando pode vai à casa de seus familiares, mas que logo retorna aos chãos de ladrilhos.

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" Hoje eu não sinto um pingo de vontade de usar crack ."

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Depois de todos esses anos vivendo na rua, ela diz estar acostumada às condições precárias apresentadas diariamente, mas que, mesmo assim, não pretende voltar a morar com a família. Em um contexto de altíssima vulnerabilidade e risco social, ela não fala sobre violência e criminalidade. Nem prostituição, nem pobreza. Pelo contrário, Amora fala sobre felicidade, esperança e, óbvio, amor. Ao ser questionada se hoje ela é feliz, Amor responde que sim, sorrindo e afirmando:

"Graças a Deus!". 

"A

* A identidade da personagem foi resguardada

*Fonte: Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra)

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