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Marcílio

O IRMÃOZINHO

 

Por Wanderson Trindade

 

ra 14 de novembro de 2017 quando, sentado nos bancos da praça do Ferreira, conversei com Marcílio. Na Praça, ele afirma estar há sete dias. Na rua, porém, já não sabe ao certo por quanto tempo perambula, mas acredita que seja entre quatro e cinco meses. Casado, pai de uma menina e um menino, Marcílio era gerente de uma transportadora, cargo hoje ocupado por seu irmão, que cuida da mãe.

 

A vida estável, ao lado da esposa e dos filhos, mudou depois que “se meteu com as drogas”. Daí em diante sua vida virou de ponta-cabeça e em um ritmo tão acelerado que ele ainda está se adaptando às condições de viver na rua - e na Praça. Em seu primeiro dia naqueles bancos, nosso personagem conta que estava caindo no sono, quando despertou nervoso ao ouvir gritos de “Estourou! Estourou!”. Sua aflição se esvaziou ao perceber que toda a gritaria se tratava, na verdade, de doação de comida.

Tentando se enturmar, mas de forma introspectiva. Essa foi a primeira impressão que tive de Marcílio Barbosa da Silva, jovem negro de 24 anos, meia altura, olhar penetrante e voz mansa. Devido aos problemas com as drogas, ele foi obrigado a largar sua casa e família para procurar lugar onde ninguém o conhecesse. A rua foi sua última opção, depois de percorrer por favelas, sofrer abusos policiais e quase morrer ao ser perseguido por traficantes de drogas.

 

 

 

Em seus sonhos, nosso personagem se vê longe das ruas e espera voltar para junto da família. Marcílio acredita que sua atual condição não é boa para ninguém e conta que, se um dia algum de seus filhos “aprontar”, ele vai levá-lo para aquelas calçadas de ladrilhos, para mostrar “a realidade da vida”.

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Em seus sonhos, MARCÍLIO se vê longe das ruas e espera voltar para junto da família.

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Marcílio revela que existem muitas entidades e pessoas que ajudam seus “irmãozinhos” - se referindo aos companheiros de praça. Suas frases compassadas e seu olhar fixo ao meu, porém, não romantiza em momento algum a situação vivida por ele. “E amanhã? E nos finais de semana? E se está ruim pra mim, imagina pro irmãozinho ali, que tem esposa e filho pequeno”, reflete, apontando para um casal sentado do outro lado da praça, com uma criança no colo.

E

*Fonte: Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra)

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